Por Gustavo Dahl*
“Todos sentimos desde Deus o Diabo: Glauber Rocha é Profeta alado. Ele é uma de nossas forças e nós Brasil, a sua fragilidade.” Era assim que Paulo Emílio Salles Gomes, referia-se a Glauber em sua “Nota Aguda”, em dezembro de 1975. “Gênio da raça, anjo e demônio da cultura brasileira, artista mundialmente respeitado, louco, exibicionista, traidor, intelectual de prestígio internacional, animador/agitador cultural, subversivo, fascista, anarquista, protestante, católico, macumbeiro, sertanejo, violento, crápula, corrupto, marginal, inteligência fulgurante, pai de família, amigo amantíssimo, solitário, eremita, bon vivant, atormentado, generoso, engraçado, barba azul, delicado, bárbaro, requintado, deprimido, sujo, grosso, arrogante, barroco, operístico, cigano, mulato, judeu, baiano, devasso, puritano, trágico, místico, quem é Glauber de Andrade Rocha?”, perguntava Gustavo Dahl, em 1980, no ensaio Deus e o Diabo na Idade da Terra em Transe. Para acrescentar, “De uma coisa, porém, não resta dúvida: num prato da balança está Glauber, no outro o Brasil inteiro.”
Seu amigo, companheiro de mocidade e da turma do Cinema Novo, Paulo Cezar Saraceni dizia: Os filmes de Glauber são os melhores por que é, de todos nós, o que mais amor tem pelo Brasil”. No coração e mente, uma certeza, Glauber tem assento entre as maiores figuras das artes e da nossa cultura . Aleijadinho, Athayde, Machado de Assis, Niemeyer, João Cabral de Mello Neto, Guimarães Rosa, Oswald de Andrade, Villa-Lobos, Bispo, é que são seus pares. E ainda hoje, três décadas depois de sua morte, permanece como um continente a ser descoberto: a terra brasileira. O sertão que vai virar mar.
Nasce sob o signo de peixes, duplo e de direções simultaneamente opostas, em 14 de março de 1939, em Vitória da Conquista. No início da Segunda Guerra Mundial, ainda hoje o maior conflito armado que a história da Humanidade conheceu. Se baiano não nasce, estréia, Glauber já chegou ao mundo, épico. No final da vida depois de “A História do Brasil” seus projetos são Ciro, Alexandre, O Nascimento dos Deuses, a Ilíada, a Odisséia, o Império de Napoleão, O Destino da Humanidade, Infinito. Além da guerra e da viagem mítica, seu universo era o maior possível. Uma visão verdadeiramente cósmica, tendo a Terra como referência. O planeta Terra e o Brasil. É o italiano Gianni Amico, que flagrando uma conversa entre Glauber e Leon em sua casa descobre: eles falam da terra como se fosse um ente querido, uma mulher amada. É uma geração que filha de Sergio Buarque de Holanda, Gilberto Freire, Caio Prado Junior mantinha essa estranha obsessão, seu país. A vontade de entendê-lo, de se misturar com ele, exaltá-lo e criticá-lo, fazer que caminhe. E com ele todo o continente. “Assim enquanto a América lamenta suas misérias gerais, o interlocutor estrangeiro cultiva o sabor dessa miséria, não como um sintoma trágico, mas apenas como um dado formal em seu campo de interesse.
Nem o latino comunica sua verdadeira miséria ao homem civilizado, nem o homem civilizado compreende verdadeiramente a miséria do latino” constatava Glauber em seu texto mais famoso “uma Estética da Fome”, datado de Nova Iorque, Milão, Rio, em janeiro de 1965. Foi preciso que tomasse posse um presidente vindo da classe operária, do mundo do trabalho e não das elites intelectuais ou financeiras, o mundo do capital, para que quarenta anos depois do grito glauberiano, o Brasil tomasse consciência do genocídio que é a sua fome secular ou arcaica. “A fome latina, por isto, não é somente alarmante: é o nervo de sua própria sociedade…nossa originalidade é nossa fome e nossa maior miséria é que esta fome, sendo sentida, não é compreendida. Para o brasileiro é uma vergonha nacional. Ele não come mas tem vergonha de dizer isto; e, sobretudo, não sabe de onde vem esta fome. Assim, somente uma cultura da fome, minando suas próprias estruturas, pode superar-se qualitativamente: e a mais nobre manifestação cultural da fome é a violência”. Por datada que possa parecer esta conclusão, quarenta e cinco anos depois, o cerne da questão continua intacto. De um ponto de vista metafísico e filosófico a fome brasileira continua inexplicável. Sem sua redenção, o próprio desenvolvimento se torna iníquo. “Nossa originalidade é nossa fome!”
Esta questão da fome, transformada em questão mundial pela presença de Lula nos foros multilaterais e levada em conta pelas grandes potências, repercute a visão profética de Glauber há quarenta e cinco anos atrás. Petróleo, soja, aço, suco de laranja, carne bovina, automóveis, só tem sentido desde que combatam a fome, cuja existência devia humilhar o país e não somente os que a padecem. Para então podermos chegar à fome mais profunda, absoluta, de uma sociedade justa e verdadeira. Com oito anos acompanhou o pai, Adamastor, nome de titã, pelo sertão da Bahia, deve ter visto a fome pela primeira vez e nunca esqueceu. Hoje, com a questão agrária ainda por resolver, tendo a violência padecida ou aplicada como solução impossível, se sente, se sente, Glauber está presente.
Em 1975, no exílio europeu, declara ao jornal O Pasquim: “ se voltar ao Brasil, voltaria à Bahia, onde quero ser governador.” Três anos depois, filmando a Idade da Terra em Brasilia, escreve a Jorge Amado, padrinho de casamento e hospedeiro, no apartamento que mantinha no Hotel Quitandinha, de sua lua de mel quase adolescente com Helena Inês “tenho ambições políticas: ser Ministro das Relações Exteriores ou então da Educação e Cultura (acho que este ministério deveria ser dividido – quero ser Ministro da Cultura) e/ou ser governador da Bahia, suceder o próximo e, naturalmente, Presidente, mas com eleições diretas”. A expressão pelo cinema não mais lhe bastava. Já nos anos de exílio, errando pela América Latina, encontra Darcy Ribeiro no Peru, que assessorava o General Alvarado, chefe de uma rebelião nacionalista de corte nasseriano, em questões educacionais. Ficam amigos, é de se imaginar a festa. Darcy, que além do brilho fulgurante, taquibráquico, tem formação acadêmica, entra na orgia cultural e política de Glauber, que diz “aprendi um pouco de política latino-americana e outros conhecimentos. Vai a Montevidéu onde vê a família e procura João Goulart. De alguma forma, desde quando filma no Rio o movimento estudantil de 68, a Revolução dos Cravos em Lisboa, se aproxima dos movimentos da luta armada, Glauber dá vazão ao seu lado revolucionário, transgressor. De quem se queixava, no Rio de Janeiro, de dormir sonhando com auroras vermelhas e acordar num porto de piratas corruptos, cheirando a rum e urina.
Esta oposição entre a política como exercício do poder de fazer, como queria Nietsche, e a política como forma de subversão da própria organização do Estado em nome de uma mudança de relações entre o povo e a classe dominante, é seu dilema. Já de seus tempos em Salvador quando como jornalista, repórter policial, diretor de suplemento cultural, celebridade precoce com menos de vinte anos, freqüentava o palácio do Governador Juracy Magalhães ou confraternizava com Antonio Carlos Magalhães na livraria que talvez fosse a Civilização Brasileira, Glauber mantinha esta ambigüidade que lhe permitia ser um radical de esquerda que mantinha canal e diálogo com as estruturas do poder político dominante. O poeta de Terra em Transe, que não consegue firmar o pacto entre a violência (a revolução) e a ternura (o amor) que Paulo Emílio ensinara serem as coisas que dão sentido à vida, é ele mesmo. Paulo Martins, o poeta, oscila entre a dedicação ao político populista e generoso que tem reminiscências de Miguel Arraes e Jango, em Alecrim, ao conservador grandiloqüente e tirânico que as tem de Carlos Lacerda, em Eldorado. Um no campo, outro na cidade. É o signo zodiacal de Peixes, um à esquerda, outro à direita. José Celso Martinez Correa gostava de lembrar que na primeira adolescência Glauber, como ele mesmo, se roçaram com o movimento integralista e seu nacionalismo exacerbado, autoritário.
Os conflitos de Glauber com o regime militar se deram a partir da censura dos seus filmes. Em 26 de março de 1964, com vinte e cinco anos recém completados, embarca para o Festival de Cannes levando na bagagem Deus e o Diabo na Terra do Sol. O golpe que se deu cinco dias depois, já estava em marcha. O novo governo quis conferir o filme que ia representar o Brasil, onde em determinado momento o personagem inesquecível de Corisco, olhava para a câmera e dizia algo assim “Aqui neste sertão o homem só tem validade quando pega das armas para mudar o destino”. Mais claro impossível, Glauber é da geração que viu a chegada de Fidel Castro ao poder e vislumbrou em Cuba a chama da revolução que finalmente ia mudar a América Latina e o mundo. No início dos anos 60 teve contato com o jovem Alfredo Guevara que comandava desde o ICAIC a criação do novo cinema cubano, com uma nova geração de diretores, muito semelhante ao Cinema Novo.
Impossível conter o entusiasmo já que um novo mundo estava sendo possível. Segundo contava o próprio Glauber com uma ponta de orgulho, os militares encarregados de avaliar o filme, entraram na projeção desconfiados, mas saíram dizendo que era filme de macho. A repercussão em Cannes fez o resto, criando um fato consumado e o filme foi lançado no Rio de Janeiro em dez salas do exibidor Lívio Bruni. Mas em 1965, Glauber é preso numa manifestação contra a OEA, em frente ao Hotel Gloria, com seus amigos Mario Carneiro e Joaquim Pedro de Andrade. E também o jornalista Marcito Moreira Alves, os escritores Antonio Callado e Carlos Heitor Cony, o diplomata Jaime de Azevedo, o teatrólogo Flavio Rangel. Nesta verdadeira aristocracia do espírito, Glauber invocou para si o papel de povo. Ficou inscrito nos arquivos do Serviço Nacional de Informações como inimigo do regime.
Solto, continuou sua carreira. Entre o golpe de março de 1964 e o Ato Institucional de dezembro de 68, os governos Castelo Branco e Costa e Silva mantiveram algumas aparências. Mas aí a barra pesou. Terra em Transe, considerado na época uma ópera barroca, visto hoje, parece um documentário de época, extremamente fiel ao espírito hipócrita e predatório da sociedade brasileira. Mais uma vez o regime militar não sabia se era uma metáfora, uma revelação ou uma denúncia. Sem ter muito onde colocar o dedo indicador para apontar o delito, a censura ficou perplexa e o Itamaraty hesitava em mandar o filme para o mesmo festival em que anteriormente Glauber já fora consagrado.
Transgressor e libertário, Glauber descobre uns códigos secretos da chancelaria e forja um telegrama em francês, supostamente vindo de Cannes, convidando o filme. Por vias transversas a cópia chega a Paris e seus diálogos traduzidos são revistos por Vinicius de Moraes. O filme é exibido, causa celeuma, mas é consagrado. Em 1969, o regime alimenta um clima de desconfiança em torno de Glauber. Ele volta, faz O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, ganha o premio de melhor direção e lhe é oferecida produção para dois filmes. Cabezas Cortadas, o espanhol, é sobre um ditador latino americano agonizante e O Leão de Sete Cabeças, no original Der Leone has Sept Cabezas, misturando alemão, italiano, inglês, francês e português, os idiomas dos colonizadores. O filme é recusado pelo Festival de Cannes. Evocam-se a tirania colonial e as guerras de libertação nacional, jovens negros sempre em armas. Ambos são proibidos no Brasil, Glauber não se sente em condições de voltar à sua terra, começam os cinco anos de exílio. Por outro lado a radicalização da experimentação cênica glauberiana imbricada com uma desconstrução da estrutura narrativa convencional, mais do que latente em Terra em Transe, faz com que a crítica receba mal ambos os filmes. Depois de respirar o ar puro do cume da montanha, Glauber Rocha se vê constrangido a descer ao vale e, às vezes, a contemplar o abismo. Sai pelo mundo procurando meios para fazer sua suma teológica, o filme America Nuestra. Moscou, Nova Iorque, Havana, Los Angeles, Roma, Glauber é um peregrino, celebridade maldita, começa a ter problemas de dinheiro, que o inquietam. Mas não perde o estilo de senhor renascentista, de herói romântico, de artista moderno, de revolucionário do Terceiro Mundo. Volta a Havana como posição de recuo e forçosamente radicaliza à esquerda e tem contacto com os exilados brasileiros em Cuba. Mas tendo aderido á revolução comportamental dos anos sessenta sente como opressiva a austeridade do regime comunista cubano.
Esta longa evocação da odisséia glauberiana que vai de Vitória da Conquista até Havana serve de moldura à questão de sua anistia. Durante a noite do dia mesmo em que morreu o Capitão Lamarca no Raso da Catarina, aonde já havia sido morto o Capitão Virgulino, dito Lampião; depois da morte de Carlos Marighella a caminho do Convento dos Beneditinos, em São Paulo, por conta da delação de sua namorada, a agente dupla Maçã Dourada, Glauber e toda a esquerda refletiram sobre a inviabilidade da luta armada como forma de antecipar o futuro. Numa enquete para a revista Visão Glauber defende a abertura de Ernesto Geisel, que alem de militar nacionalista era protestante como ele e chama o General Golbery, cérebro do regime e criador do SNI, de gênio da raça. Entre os vários escândalos glauberianos, este talvez seja o maior. Desafia toda a esquerda brasileira e mundial chama para a briga os bem-pensantes. Conhece a execração, é chamado de traidor e vendido. Já havia enfrentado o stablishment do Partidão ao constatar que este era imune a críticas pela esquerda e se defendia acusando quem ousava questioná-lo de agente da repressão. Todos a serviço da polícia, da direita.
Glauber reagia dizendo que ele e sua turma eram socialistas, filhos de Paulo Emilio e Antonio Cândido. Que era LEF e não Proletcult, Eiseinstein e não Pudovkin, retomando a polêmica do florescimento da Revolução Soviética, entre 1918 e 1924, antes da grande noite estalinista. E que a crítica e a auto-crítica faziam parte da tradição da esquerda, que não se podia reprimir o debate em nome da obediência partidária, a inflexível linha justa. Ele, que já havia enfrentado o colonizador imperialista, enfrentava de peito aberto o colonizador soviético, um e outro introjetados em nosso sistema de valores. Estava com o conspirador Lin Piao, que durante a Revolução Cultural na China, proclamou: “existem países capitalistas ricos e países capitalistas pobres; existem paises socialistas ricos e países socialistas pobres; o mundo se divide entre os países pobres e os países ricos.” Tinha que morrer como morreu, abatido em pleno vôo. E que, aliás, é citado literalmente em Idade da Terra. Com sua coragem pessoal, intelectual, política, Glauber, o filho do Brasil, tentava tirar o país do impasse esquerda-direita, civis-militares, democracia-regime autoritário. Para os íntimos reclama da burrice, da caretice, da obnubilação da esquerda brasileira, de não ter percebido que ele sozinho, por sua própria conta e risco, desembarcara de pára-quedas por detrás da linha inimiga, no sentido de dilatar e se possível diluir a linha de trincheiras do enfrentamento sem fim. Depois de ser unanimemente declarado inimigo do regime militar, Glauber era, de novo unanimemente, declarado inimigo da contestação ao regime militar. Que sucesso!
Neste quadro, propõe à Embrafilme a realização de A Idade da Terra, projeto herdeiro da ambição de America Nuestra. O Ministério da Educação, ao qual estava vinculada a empresa lhe sugere fazer antes um documentário patriótico sobre o Brasil, como forma de manifestar seu apoio ao regime. Glauber se nega. Mantém a pressão política e finalmente consegue os fundos para fazê-lo praticamente sozinho como produtor e diretor. É um filme a um só tempo mosaico e mural. Pode ser feito e visto aos pedaços. Jesus Cristo, o Salvador, volta para o povo em quatro versões: o Cristo negro, o Cristo branco, o Cristo índio e o Cristo militar. E muito, muito mais. Inteiramente solto, Glauber retoma sua espantosa liberdade, entra e sai do cinema e da narrativa linear, faz um poema épico audiovisual, desconstrói e constrói novas relações de linguagem. O mesmo autor que o chamava de Profeta Alado, complementa: profeta não tem obrigação de acertar, sua função é profetizar.
O filme passa no Rio e é massacrado, desrespeitado. A mediocridade, a mesquinhez, a covardia pode finalmente se vingar de Glauber. Vai então ao Festival de Veneza, onde apesar de elogios de Alberto Moravia e Michelangelo Antonioni, é agressivamente demolido pela crítica italiana, que sintomaticamente aproveita para cobrar sua suposta adesão ao regime militar. Vence o bom-comportamento de Louis Malle, Glauber perde as estribeiras, sai por Veneza vociferando contra tudo e contra todos, mas sobretudo contra o Grande Satã, os grandes estúdios, a indústria cinematográfica americana. “O Cinema Novo não pode desenvolver-se efetivamente enquanto permanece marginal ao processo econômico e cultural do continente latino-americano; além do mais porque o Cinema Novo é um fenômeno dos povos novos e não uma identidade privilegiada do Brasil: onde houver um cineasta disposto a filmar a verdade, e a enfrentar os padrões hipócritas e policialescos da censura intelectual, aí haverá um germe vivo do Cinema Novo. Onde houver um cineasta disposto a enfrentar o comercialismo, a exploração, a pornografia, o tecnicismo, aí haverá um germe do Cinema Novo. Onde houver um cineasta de qualquer idade ou procedência, pronto a por seu cinema e sua profissão a serviço das causas importantes de seu tempo, aí haverá um germe do Cinema Novo.Uma Estética da Fome, 1965. Um quarto de século depois, Glauber permanece fiel a si mesmo.
Vai em seguida para Portugal, para a cidade em que Wim Wenders estava filmando “Sintra, é um bom lugar para se morrer”. Adoece, tem quarenta e dois anos, idade com que aos vinte e quatro anos havia anunciado que morreria. Vem para o Brasil em coma. No meio de uma emoção brutal, morre na madrugada seguinte a aquela em que chegara. No velório cenográfico do Parque Lage, o amigo psicanalista Helio Pellegrino comenta: “Não adianta, ele queimava a vela pelas duas pontas”. Os amigos, que nunca entenderam porque não procurou antes o tratamento em sua terra, se olhavam perplexos e algum sussurrou para outro um sentimento comum: morreu de Brasil.
Esta anistia tem que ser plena, geral e irrestrita. Que joguem cinzas nas cabeças todos os que se interpuseram entre Glauber e a redenção de seu país. Como os deuses gregos que o fascinavam, respirou muito cedo o ar puro e fresco do cume da montanha, conheceu a alegria selvagem dos faunos e ninfas, o êxtase místico da pitonisa. Não quis permanecer na lhanura inundada do vale. Ainda hoje é nossa força e nós, sua fraqueza. Esta é uma boa oportunidade para pedir que nos anistie.
*Texto lido por Gustavo Dahl durante a cerimônia de anistia de Glauber Rocha, no dia 26 de maio de 2010, em Salvador, na Bahia.