A arte de fazer cinema em debate

A arte de fazer cinema em debate

 

Por Belisa Figueiró

Cinema que transpõe a literatura, que busca arbítrio pela arte e que surge com ênfase autoral a partir das décadas de 1950 e 1960. Esses foram alguns dos principais pontos levantados no debate desta manhã no V Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual (Semcine), em Salvador.

Na mesa “Quando o cinema é arte”, o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Monclar Valverde, deu início à discussão buscando conceitos convergentes que estabelecessem, afinal, o que é a arte, desde aquela consagrada pelos museus como instituição ao arbítrio que ela representa para modificar a realidade dos espectadores.

Monclar a definiu como um acordo simbólico entre grupos que dão significados a objetos e que, quando transformam algo no espectador, quando lhe dá capacidade para tirá-lo do seu mundo cristalizado, a arte consegue ampliar a sua perspectiva em relação aos outros.

Comparando ao cinema, o professor também lembrou que cineastas, compositores, pintores e poetas não nascem prontos e dependem da recepção inicial para poderem produzir suas obras a partir de outros referenciais. Com isso, Monclar relacionou o cinema como um livre arbítrio para a transformação.

A também professora da UFBA, Edilene Dias Matos, especialista em literatura, trouxe à mesa os meandros das transposições de obras literárias para a produção cinematográfica. Na sua interpretação, “o artista não se satisfaz com a representação” e “o que nos falta sempre é o outro, o desejo do encontro com o outro”, tarefa que a literatura e o cinema conseguem, juntos, unir e distribuir.

Citando o cineasta e diretor de televisão Luiz Fernando Carvalho (de “Lavoura Arcaica”, “Capitu” e “A Pedra do Reino”), Edilene apontou os cuidados dele nessa transformação da palavra em estética, “bebendo nas próprias metáforas dos autores”, sem deixar de enfatizar as diferentes linguagens para “a telinha e a telona”.

A partir de uma grande pesquisa e exploração de novas técnicas, Carvalho, na opinião dela, transpõe a literatura na mise-en-scène, na atuação, no figurino, etc. Ou seja, dá uma resposta criativa ao texto, enfatizando a arte.

Para finalizar, o professor francês da Universidade de Paris III, Kristian Feigelson, preferiu discutir o surgimento do cinema como arte. Com um olhar para o cinema francês, Feigelson lembrou que o cinema é uma arte de produção e recepção coletivas, que nasceu como indústria e entretenimento, mas que, somente nas décadas de 1950 e 1960 passou a ser autoral e reconhecida como arte.

A noção de autorismo surgiu, nas suas palavras, no pós-guerra, a exemplo da Nouvelle Vague e do Cinema Novo, quando os filmes deixam de ter uma temática social e passam a ter novos critérios de qualidade, inclusive com apoio financeiro do Estado. Com essa revolução, surge também a crítica cinematográfica, a cinefilia e a reflexão dos filmes, a exemplo da famosa revista francesa “Cahiers du Cinema”.

A autoria dos filmes, segundo Feigelson, se sobressai ao cinema popular e comercial, legitimando os autores cineastas no espaço público.

FOTO: Ronaldo Partha

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