A exploração do inconsciente

A exploração do inconsciente

 

Por Alessandra Meleiro

“Quando eu morrer quero que Dr. Jung receba minha cabeça. Só ele pode abri-la e dissecá-la”. Sabrina Spielrein

O filme “Jornada da Alma” aborda a relação do psicanalista suíço Carl Gustav Jung com sua paciente, a soviética Sabina Spielrein, baseado nas cartas trocadas entre Freud e Jung e que foram publicadas em 1980 por Aldo Carotenuto em “Diário di uma Segreta Simmetria”.

O diretor do filme, Roberto Faenza, aproxima-se da psicanálise não por seus aspectos científicos, mas por sua inigualável capacidade de contar histórias e descrever comportamentos humanos. Nesse sentido, assemelha-se ao estudioso alemão Johannes Cremerius, que também considerava de grande valor literário a obra de Freud.

As correspondências originais trocadas entre Jung, Freud e Sabina Spielrein no início do século passado, assim como o diário de Sabina, foram encontrados em 1977 em Genebra, nos porões de Palais Wilson, antiga sede do Instituto de Psicologia suíço.

Sua divulgação pública, graças ao livro de Carotenuto, gerou debates calorosos entre junguianos e freudianos,uma vez que os discípulos de Jung queriam vetar a publicação do livro. O pedido de censura foi motivado pelo fato de que o tratamento da paciente Sabina Spielhein (que sofria de uma grave forma de histeria) por Jung resultou em um envolvimento amoroso entre os dois – Freud, então mestre de Jung, reduziu o ocorrido a questões de transferência e contra-transferência.

A relevância de um projeto cinematográfico sobre a vida de Sabina,que também inspirou ensaios e romances em diversos idiomas e peças teatrais (na Broadway e em Londres), deve-se por seu encontro com a psicanálise, por haver revelado os lados obscuros do relacionamento entre Jung e Freud e por haver vivenciado importantes fatos históricos do século XX,como o stalinismo e o nazismo.

O levantamento das informações que costuram o roteiro foi resultado de pesquisas realizadas na Rússia pós-perestroika pelo diretor, já que o diário de Sabina cobria apenas o período de 1909 a 1912. Descobriu-se que Sabina graduou-se em psiquiatria na Suíça, atuou como analista em Genebra (tendo Piaget como seguidor) e dirigiu uma escola infantil em Moscou, a Escola Internacional de Solidariedade.

A escola foi fechada por Stalin por não estar de acordo com a doutrina soviética, assim como a psicanálise foi banida a partir de 1936:o exército vermelho proibiu o tratamento de pacientes, publicações e qualquer tipo de manifestação pública sobre o assunto.

A inserção do percurso da própria pesquisa do diretor foi inserida no roteiro por meio do testemunho dos pesquisadores que o auxiliaram no trabalho e do encontro inesperado como último sobrevivente da escola infantil. Estas cenas garantem uma forte crítica aos princípios marxistas-Ieninistas e a defesa de um tratamento humanizado na saúde mental.

FONTE
Revista 2001
Edição nº. 30, página 03 – Março de 2005
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