Por Daniela Pfeiffer
O Brasil caracteriza-se como um país de extensas dimensões territoriais, onde convivem as mais diversas formas de expressão cultural. A natureza, a miscigenação e a forma como ocorreu o nosso processo de colonização, serviram como elementos para a formação de diferentes identidades, as quais constituem hoje um rico cenário de expressões culturais.
Cada região do país desenvolveu e consolidou suas próprias tradições culturais de uma forma tão própria, que por vezes se tem a impressão de que existem vários países convivendo dentro de um só. Este processo acabou culminando na formação de um país de expressivas contradições, onde o potencial econômico convive com um progresso social que está muito aquém dos níveis ideais e compatíveis com a real capacidade produtiva do país.
Tais contradições possuem raízes no arcaísmo das estruturas de base, e são heranças de um processo colonizador profundamente desigual. Neste contexto a concentração econômica está diretamente relacionada tanto aos princípios norteadores do capitalismo, quanto à forma como o Estado direcionou suas políticas, as quais acabaram favorecendo o desenvolvimento de algumas poucas regiões em detrimento de outras.
O objetivo deste artigo é lançar um olhar sobre o fenômeno da concentração espacial da produção e consumo cinematográfico, realçando a importância da cultura e do audiovisual como meios fundamentais de expressão de identidades.
Tal análise será realizada num contexto onde as políticas públicas voltadas para a cultura, de uma forma geral, não têm contribuído para provocar um equilíbrio do conjunto das práticas culturais.
Neste sentido, faz-se necessária uma reavaliação do modelo adotado para o campo da cultura e do audiovisual, considerando que tal modelo priorizaria excessivamente as regiões onde se concentra o discurso hegemônico da mídia, inibindo porventura a participação de diferentes expressões no cenário nacional, bem como uma distribuição mais equilibrada dos bens culturais.
Com as mudanças desencadeadas pela globalização e pelos processos da comunicação social, faz-se necessário hoje avaliar possíveis caminhos para modificar o quadro de desigualdade que se impõe, bem como criar condições para que discursos alternativos ao hegemônico consigam coexistir junto ao sistema dominante. Partindo-se da identificação de uma realidade de expressiva concentração regional da produção cinematográfica, buscaremos compreender sua relação com a formação cultural da sociedade, bem como refletir sobre as possibilidades de modificação desta realidade.
Para tanto, inicialmente será aplicada uma fundamentação teórica, passando por conceitos como igualdade e diagnóstico cultural. Em seguida, será feita uma breve contextualização das políticas públicas do audiovisual, para que se possa discorrer acerca da concentração espacial da atividade com base em dados do mercado brasileiro.
A partir desta contextualização, investigaremos o surgimento e a consolidação de pólos regionais de produção, com destaque para Bahia e Pernambuco, que tendem a sinalizar possíveis caminhos para a desconcentração da prática e do consumo de cinema no Brasil. Por último, pontuaremos a reflexão com as considerações finais.
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