O cinema da América do Sul

O cinema da América do Sul

 

Miriam Ross está na fase final de seu doutorado na University of Glasgow, no Reino Unido, com a pesquisa “Distribution practices and cinematic culture in South America”. A questão central da tese é examinar a forma de diferentes intervenções nas práticas cinematográficas de países como Argentina, Bolívia, Chile e Peru – que acabam por moldar uma cultura cinematográfica nestes países.

Estes países foram escolhidos por serem fronteiriços, por falarem a mesma língua – o espanhol – e formarem uma cultura regional, a sul-americana. No entanto, distintas formações nacionais conduziram a diferentes práticas no âmbito cinematográfico, especialmente no que se refere às áreas Estado e envolvimento institucional, setores comerciais, interesses internacionais e práticas alternativas.

Outra tese, recém-defendida no Reino Unido, que explorou a cultura cinematográfica na América Latina, especialmente as co-produções, foi “Latin American Co-production Cinema: Economics and Hegemony since 1980”, de Libia M. Villazana.

A tese, que em breve será publicada em livro por uma editora alemã, enfocou o estudo de causas e efeitos de mecanismos de co-produção cinematográfica internacional, especificamente aqueles mecanismos organizados entre países da Espanha e América Latina desde a década de 1980. Discutiu-se a posição hegemônica da Espanha nessas colaborações, e os discursos neocoloniais envolvidos nestas negociações.

Os resultados foram obtidos através de trabalhos de campo no Peru e Espanha. Baseado no trabalho de campo, a pesquisa foi centrada predominantemente na experiência peruana de co-produção com a Espanha, examinando-se paralelos com práticas similares de colaborações entre produções cinematográficas em outros países do subcontinente. Um documentário em 46mm, intitulado Latin America in Co-production (dir. Libia Villazana UK/Peru, 2007) foi resultado deste trabalho de campo. O filme tornou-se um relevante componente prático desta pesquisa em co-produção.

A metodologia usada durante a filmagem do documentário foi baseada na Observação Participante. Este método ofereceu a possibilidade de participar nas atividades diárias de uma co-produção cinematográfica entre um país Latino Americano e a Espanha, com uma próxima observação dos acontecimentos. Estudos prévios neste campo tenderam a concentrar-se na análise da potencial perda da identidade nacional e cultural entre esses colaboradores.

Na bibliografia disponível em língua inglesa encontram-se alguns estudos enfocando a economia política destas co-produções, analisando o tópico de uma maneira genérica. No entanto, os estudos falham na análise dos fatores chave que causam problemas neste tipo de negociação. A tese – e o livro que será publicado – portanto, apresenta uma grande contribuição, já que há escassa literatura sobre a prática de co-produções internacionais envolvendo países Latino-Americanos.

Além destas questões, a pesquisa faz uma análise das dinâmicas de trabalho das mais importantes organizações Ibero-Americanas, como o Fundo Ibermedia, avaliando os princípios de ajuda e promoção do cinema Ibero Americano, além da indústria cinematográfica na América Latina.

Os conhecimentos apresentados nas teses de Libia Villazana e Miriam Ross trazem importante contribuição para o registro da historiografia da produção cinematográfica nos países da América Latina.

Veja abaixo estrutura de conteúdo de ambas as teses.

“Latin American Co-production Cinema: Economics and Hegemony since 1980”, de Libia M. Villazana

Chapter 1. Introduction: Listening to Paranaguá

Dramatis Personae

Chapter 2. Fishing for the right information

Chapter 3. Historical development of Latin American co-productions

The widespread practice of Ibero-American film collaborations

Financial backers of film co-production in Latin America

Political and economic scenarios that galvanised the practice of film co-production in Latin America

Chapter 4. Dissecting the mechanisms of film co-production

Film distribution in Latin America and Spain

Developing co-production formulas in the cinema of Latin America

The perspective from inside Latin American borders

Chapter 5. Hegemonic conditions in the cinema of Latin America

A strident voice

What is it to be a subaltern?

Genesis of Latin American indoctrination

Chapter 6. Conclusion: Real Alliances

“Distribution practices and cinematic culture in South America”, de Miriam Ross

Chapter 1

Section 1: Cinema Laws and Legal Intervention
Each country has a cinema law and film councils which determine the way that cinema is practiced as a legal activity. These often project other desires such as the need for cinema to take place as a national cultural form.

Section 2: Creating an Historical Continuum
Each country also has state sponsored cinematecas and archives that stabilise a place for cinema texts within ‘national heritage’.

Section 3: Working between the National and the Latin American Regional
Although the countries have their own film councils and legislation, they are joined through regional frameworks such as Recam and CAACI that attempt to form a protected market for Iberoamerican films. Their participation in these networks is often complicated by the way in which national interest for cinematic activity is expected to come before regional interest.

Section 4: Centre and Periphery
The notion of a ‘contained’ national cinematic culture is also complicated by the disparate groups living in each nation, both ethnic minorities and diasporic communities.

Chapter 2

Section 1: Creating Circulation, Distributors and Sales Agents
Distribution circuits are mostly controlled by international companies. South American films have to either fit into their marketing concerns or find distribution in segregated arthouse spaces.

Section 2: New Opportunities: Digital Screen Networks and Direct Distribution
New digital technology should offer the opportunity for a greater number of South American films to reach cinema screens and circumvent the traditional distribution circuits.

Section 3: Exhibition in the Multiplexes and the Standard Cinema
The way in which audiences have access to the South American films that are screened is often determined by the cinema space which is available to them (multiplexes, older cinemas, arthouse centres)

Section 4: The Collectibility of the DVD
DVDs, and the new technology embedded in them, allow further access to South American films although, as with cinema sites, South American films are often promoted in a limited way.

Chapter 3

Section 1: International Interest, Global Co-productions
Co-productions offer the ability for external cultures to have an input into South American film. At times this is a transcultural exchange based on reciprocity while at other times, unequal balances of power between nations come into play.

Section 1.1: Cross-region cultural exchange, Co-productions and Ibermedia
Ibermedia fosters co-production amongst Iberoamerican nations and works to even out balances of power between nations.

Section 1.2: Textual Analysis of co-produced films

Section 2: Cultural Identity as Global Heritage
UNESCO plays a role in supporting peripheral communities, particularly indigenous people, in their filmmaking practice. There are questions over the extent to which transculturation is fully supported or whether there cultural forms are segregated into a ‘fourth world’ arena.

Section 3: Altruistic Funds
Other altruistic organisations also fund and support film production from South America. While they support a wider range of films there are still issues around the discourse of ‘Third Worldism’ that they use and the conditions place upon the films they support.

Section 4: Film Festivals and Validity
Film festivals work in a similar way to support the distribution and circulation of films (rather than production) and are thus closely linked to the access audiences have to films.

Chapter 4

Section 1: Piracy
Piracy networks allow pubic engagement with South American cinema to take place in a way that evades legal structures but also opens up new possibilities.

Section 2: Alternative Spaces
There are also alternative exhibition spaces, operating in a grey area between legality and illegality, which provide different modes of access to South American films.

Section 3: Internet Technology
On line, global film forums such as Youtube and IMDB allow audiences to engage with South American films in a way that circumvents official channels of engagement provided by the state or the commercial sector.

Section 4: Different Voices and Language
Outside of the state and commercial sectors, there are also peripheral communities using new technology to produce and provide access to locally produced film works.

FOTO: Filme “Pantaleón y las Visitadoras” (Peru, Francisco Lombardi, 1999)