Por Heloisa Lyra Bulcão*
Podemos nos perguntar como se dá a diferença da compreensão e do uso do espaço, no teatro e no cinema? A presença é o que faz a diferença? Quais os conceitos de presença no teatro contemporâneo? O teatro é a arte do ator, esteja ele se apresentando propriamente, ou manipulando uma figura animada. Sem o ator não há teatro. Este tem que ter uma personalidade. O cinema pode mostrar um objeto que se move ao acaso, que não se transforma em personagem. O teatro não se faz sem personagens. O Cinema, como aponta Gunning, pode ser caracterizado como a arte de mostrar algo. Podemos acrescentar que tem a capacidade de mostrar com o uso do movimento, seja pela captação do movimento do objeto filmado, ou pelo movimento da própria câmera.
André Bazin (1991), em seu texto “Teatro e cinema”, escrito em 1951, se dirigindo contra os que criticam o uso do teatro no cinema, afirma que o teatro não perverte o cinema, mas o enriquece, em função de não serem suas linguagens separadas por características estéticas incompatíveis. Para Bazin, apenas suscitam dos espectadores duas atitudes mentais diferentes, que devem ser bem controladas pelos diretores.
Bazin lembra que o cinema demanda uma adesão passiva do espectador, fazendo com que ele se identifique com o herói, enquanto que o teatro o excita, exige uma consciência individual ativa. Segundo Bazin, é nesta medida que ocorre a oposição entre o cinema e o teatro. Enquanto o cinema precisa dispor de procedimentos de encenação que favoreçam a passividade ou excitem mais ou menos a consciência, o teatro pode buscar atenuar a oposição psicológica entre o espectador e o herói.
O cinema é um meio de comunicação de massa. Há filmes que são obras de arte realizadas com este meio e outros que têm como proposta ser um produto para a indústria do entretenimento. O cinema, no entanto, foi capaz de exercer grande influência no nosso modo “de conceber e representar o mundo, de construir e entender nossas experiências, de armazenar conhecimento, de acumular signos, transmitir informações e até na conformação de aspectos de nossa subjetividade” (COSTA, 1995: XVII).
O presente ensaio pretende identificar, a partir dos estudos do espaço no cinema e no teatro, a inter-relação dos mesmos com a compreensão do espaço pela vertente da geografia cultural, portanto a influência da utilização do espaço no meio cinematográfico sobre o modo de vida da sociedade onde se insere. Nesta perspectiva, observamos o modo como o espaço é exibido na direção de arte de Luiz Carlos Ripper, no filme “Xica da Silva” (1976) de Cacá Diegues.
*Ensaio apresentado como trabalho final da autora no curso Espaço Teatral e Espaço Fílmico, ministrado pela Prof. Dra. Ana Tesresa Jardim, para o doutorado em Artes Cênicas da UNIRIO.
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