Por Valério Cruz Brittos e Andres Kalikoske*
O audiovisual relaciona-se a curtas e longas-metragens, documentários, programas de TV, arquivos digitais de vídeo e outros materiais que incorporem som e imagem, exibidos em salas de cinema, auditórios, na televisão e internet. No entanto, quando se considera a totalidade do fazer audiovisual, esboçando os atores envolvidos em suas diversas etapas (muitas vezes de realização fragmentada), esbarra-se na carência de subsídios para um entendimento acerca da economia dos dispositivos que envolvem seu processo de realização. No Brasil, país em que grande parte dos bens simbólicos audiovisuais é financiada por órgãos governamentais, tal sistema mostra-se deficiente – desde a distribuição de recursos até a prestação de contas –, atendendo especialmente interesses de grupos de mídia já consolidados.
O desenvolvimento da indústria televisiva no Brasil surge em período posterior ao seu estabelecimento nos Estados Unidos, nos anos 30, mas deve-se considerar que, mesmo naquele país, um mercado efetivo só foi estabelecido após o fim da Segunda Guerra Mundial. Em 1950 o empresário Assis Chateaubriand (responsável pela chegada dos primeiros 200 aparelhos de TV em território nacional) inaugura a TV Tupi, emissora comercial integrada ao já estabelecido grupo Diários Associados. Na indústria cinematográfica, o gênero musical e as chanchadas de humor ingênuo, burlesco e de forte caráter popular estavam em ascensão, com títulos produzidos especialmente nos estúdios Vera Cruz, Maristela e Multifilmes, localizados em São Paulo, e Atlântida, do Rio de Janeiro.
No decênio seguinte, com o advento do videoteipe, viabiliza-se a gravação simultânea de som e imagem em fita magnética, sinalizando um futuro promissor quanto ao desenvolvimento do setor audiovisual. A partir da instauração da nova técnica, a televisão passa a reproduzir cenas remotas em momento presente, que, por sua vez, ao serem geradas como atuais, acabam por estagnar a relação de espaço e tempo dos teleprodutos, maximizando, assim, sua vida útil. Sequencialmente, é nos anos 1970 que a desregulamentação dos mercados globais confere uma conjuntura político-econômica favorável à expansão dos bens simbólicos, que, desde então, passam a fazer parte de uma conjuntura transnacional, na qual se inserem diferentes modalidades de comercialização, enfaticamente venda integral, de roteiro e projeto.
Considerando a livre mobilidade dos capitais, em período posterior à criação da chamada Lei Rouanet – que previa a captação de investimentos do setor privado para a promoção da cultura nacional de âmbito cinematográfico –, somada à inovação tecnológica dos meios de distribuição, o presente capítulo propõe uma análise transversal deste audiovisual, compreendendo os movimentos econômicos de produção, distribuição e consumo praticados por sinergias de suas principais janelas: televisão e cinema.
Nesta direção, aloca-se ao centro da análise o conceito de barreiras à entrada, a partir da posição epistêmica inclusiva da Economia Política da Comunicação, em conexão com a perspectiva das Estruturas de Mercado, nessa linha revisando as teorias clássicas de Bain e refletindo as contribuições de Porter, os quais, vindo de outras matrizes, apresentam importantes contributos a esta temática.
*Trecho de introdução do artigo de Valério Cruz Brittos e Andres Kalikoske no livro “Cinema e Economia Política”, volume II da coleção “Indústria Cinematográfica e Audiovisual Brasileira”, uma coedição do Instituto Iniciativa Cultural e Escrituras Editora.
Conheça o trabalho dos autores Valério Cruz Brittos e Andres Kalikoske.