A “MOSTRA UFSCar DE CULTURA AUDIOVISUAL INCLUSIVA: IMAGEM & SOM E TILSP” é organizada pelas professoras Alessandra Meleiro, do CENA, e Joyce Cury, ambas da Imagem e Som, e pelos Profs. Vinicius Nascimento e Vanessa Martins do DPsi-TILSP. Trata-se da mostra das peças audiovisuais que os alunos produziram sobre “Ética do Intérprete de Libras” na disciplina Ética Profissional do Intérprete, ministrada no TILSP, em parceria com a disciplina Produção Audiovisual, da Imagem & Som, no 1o Semestre de 2018.
No evento, os alunos apresentarão os documentários que foram produzidos em parceria nessas disciplinas e também as produções do projeto Sentirgrafia que teve como participante e colaboradora nas oficinas do projeto a Profa. Joyce Cury da Imagem & Som. Ao final, será apresentado o projeto de pesquisa sobre “tradução audiovisual da Libras” realizado com apoio da FAPESP pelo Prof. Vinicius Nascimento. Todas as sessões contarão com debates.
Exibição do Documentário “O Intérprete Ético”: clique aqui para assistir
O curso de Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais – Libras / Língua Portuguesa (TILSP), na Universidade Federal de São Carlos, é um dos primeiros do Brasil e está perto de formar a sua primeira turma de tradutores. Além da situação precária na integração do convívio social dos deficientes auditivos no país, os futuros profissionais também terão contato direto com dilemas que dizem respeito aos ramos do entretenimento, direitos civis, educação, saúde, entre outros. Em 2018, alguns alunos e professores do TILSP se propuseram a desenvolver um documentário que retratasse os dilemas enfrentados pelos tradutores de Libras.
Assim, nasceu a parceria com a turma do curso de Produção Audiovisual do curso de Imagem e Som da UFSCar. A produção do documentário teve como base as aulas de ética profissional do TILSP. O documentário aborda o acesso à saúde pela comunidade surda, o papel do tradutor e intérprete na promoção da acessibilidade na esfera da saúde e os contratantes do serviço de tradução: em consultas médicas nos setores público e privado. Estas entrevistas visaram criar o entendimento e escuta polifônica do tema e do universo desses mediadores. As questões éticas são profundamente complexas e as ações desses mediadores afetam um direito básico da cidadania para os indivíduos surdos, que é o acesso ao atendimento de saúde.
O tradutor-intérprete de Libras é o profissional responsável por mediar as interações linguísticas dos sujeitos Surdos falantes de Libras na sociedade. Sua atuação é permeada por aspectos que consideram, para além do domínio linguístico, como os dilemas referentes à ética da atuação, dramas que, apesar de estarem presentes em todos os contextos de trabalho do tradutor-intérprete, intensificam-se nesta esfera, por conta do nível de risco/fatalidade característico da área da Saúde. Como os agentes envolvidos nesse contexto gerenciam os dilemas que vivenciam em seu dia a dia? Haverá saída para tais encruzilhadas éticas? Será possível superar os desafios inerentes à acessibilidade linguística na esfera da Saúde – esfera de fundamental importância para o alcance de vida de fato digna e humana?
Argumento
A atuação do profissional de Libras está envolta em inúmeras situações em que as escolhas éticas se transformam em um terreno nebuloso e algumas vezes pouco explorado. O documentário se desenvolve através da polifonia de vozes que compõem o universo do tradutor dentro do tema de saúde. O acesso a saúde e a informação no Brasil é precário para uma grande parcela da população. Para a comunidade surda há o complicador da comunicação: alguns hospitais e clínicas não conseguem ao menos se comunicar com os pacientes surdos. Aí entra a figura do tradutor e intérprete de Libras.
Entrevistas com surdos, não-surdos, tradutores e intérpretes de libras, assim como o “outro lado” dos médicos e prestadores de serviço se articulam para formar as diversas vozes no documentário.
Justificativa
A atuação do intérprete de Libras na área da saúde é permeada por aspectos que consideram – para além do domínio linguístico, como o sigilo, a confiabilidade e a consciência acerca de suas funções e objetivos -, questões que apesar de estarem presentes em todos os contextos de trabalho do tradutor-intérprete, intensificam-se nesta esfera, por conta do nível de risco/fatalidade característico da Saúde. Por essa razão, produções que buscam suscitar reflexões sobre os dilemas éticos inerentes à profissão em questão, como esse documentário, possuem relevância social. Considera-se também que tais dilemas, enfoque do documentário, são uma temática ainda pouco tratada na literatura da área da surdez e da interpretação de Libras/Português, e, sobretudo, nas produções audiovisuais brasileiras.
No Brasil, há alguns documentos da legislação vigente que visam garantir o atendimento da pessoa Surda falante de Libras no sistema de saúde, e que, ao proporem o uso da Língua Brasileira de Sinais como língua de interação nesses espaços, consideram a singularidade linguística e cultural desse público. Entre esses documentos, é possível citar: a Constituição de 1988, que prevê o direito à saúde pública (BRASIL, 1988); a Lei Federal 10.436/02, que a reconhece como “meio de comunicação da comunidade surda”, além de apontar que o sistema de saúde ofereça um atendimento e tratamento adequados à pessoa surda (BRASIL, 2002); e o Decreto 5.626/05, que, dentre outras providências que visam garantir a acessibilidade da pessoa surda no sistema de saúde, assegura serviços de tradução e interpretação no contexto de saúde pública e apoia a promoção de formação dos profissionais da rede de serviços do SUS para o uso da Libras (BRASIL, 2005).
No entanto, apesar da existência dessas leis, ainda são vários os percalços enfrentados pela comunidade surda nesse contexto, no que se refere à acessibilidade linguística: a) Ausência de concursos públicos nas unidades de saúde, sendo a maioria das mediações, na saúde pública e privada, realizada por meio de voluntários – intérpretes ou amigos/parentes que sabem Libras, convidados pelo paciente – ou então por intérprete pago por hora pelo próprio Surdo; b) Além de ser de caráter generalista, a formação dos tradutores-intérpretes de Libras no Brasil é recente e em quantidade que ainda não atende ao número de pessoas surdas no país (segundo o censo de 2010 do IBGE. são 9,8 milhões os brasileiros autodeclarados deficientes auditivos, população heterogênea, dentre a qual estão os Surdos, falantes de Libras; c) Muitas unidades de saúde não realizam a capacitação de seus profissionais para o atendimento do público Surdo, como é previsto no decreto 5.626 de 2005. d) Não há um código de ética e conduta específico para os profissionais intérpretes que atuam na área da saúde, código que provavelmente contribuiria para orientar os profissionais diante dos dilemas éticos que vivenciam no cotidiano de sua atuação.
Tendo em vista todos esses desafios, emblemáticos do período sócio-histórico que vivemos no Brasil hoje – caracterizado ainda pela precariedade do sistema de saúde no atendimento às pessoas Surdas, mas também, ao mesmo tempo, pela efervescência de mudanças positivas à nível de categoria profissional para os tradutores-intérpretes de Libras/Português -, um olhar atento e crítico à essa realidade faz-se necessário, podendo conduzir o público à reflexões potencialmente transformadoras da realidade.
Quanto à escolha das pessoas entrevistadas, acredita-de ser interessante apresentar a discussão sob a perspectiva de quatro sujeitos envolvidos na questão – a pessoa Surda, o Intérprete, um profissional da área da saúde e um representante da categoria organizada de tradutores e intérpretes de Libras do Brasil – pelo fato de possibilitar que sejam contempladas diferentes facetas e pontos de vista acerca do mesmo objeto, de modo a atingir uma maior aproximação da dimensão da complexidade das questões apresentadas.
Exibição do Documentário “Nossas Mãos”: clique aqui para assistir
O documentário tem como proposta documentar uma difícil relação na esfera educacional, apresentando os desafios enfrentados por intérpretes de Libras / Língua Portuguesa e alunos surdos, mostrando como a tríade, aluno surdo-intérprete-docente, pode muitas vezes ser conflituosa em suas mais diversas maneiras de se relacionar no que se refere aos seus aspectos éticos.
Sinopse
O documentário retrata o trabalho e os dilemas do tradutor e intérprete de LIBRAS no âmbito educacional, com a exposição de um caso real, abordado através de entrevistas com diversos agentes envolvidos, como também agentes externos, buscando-se variados ângulos e visando discutir os conflitos éticos na relação entre agentes educadores, intérpretes e pessoas surdas.
Argumento
As barreiras linguísticas ainda são um aspecto presente na relação entre a comunidade surda e os ouvintes. O tradutor e intérprete de LIBRAS é o profissional responsável pela mediação em diversos espaços. Ao se estabelecer esse tipo de intervenção, a ética desses profissionais torna-se um assunto em discussão, uma vez que deve atuar de forma responsável ao se apropriar do discurso do outro para que se possa fazer entender a mensagem por ambas as partes.
Em vista dessas discussões, o documentário buscará desenvolver, a partir da narrativa de uma situação problema vivenciada por um profissional intérprete, as questões éticas que são encaradas pelos tradutores e intérpretes de LIBRAS inseridos em diversas áreas, como na esfera educacional.
A partir da apresentação da situação problema, serão realizadas entrevistas com uma pessoa surda interna ao contexto universitário, uma pessoa surda externa ao contexto, um intérprete educacional do ensino superior e um estudioso de ética, a fim de obter informações sobre suas experiências e opiniões sobre o assunto exposto. Como complemento, serão captadas imagens de cobertura dos entrevistados em situações cotidianas.
O documentáriofoi realizado em LIBRAS, uma vez que a comunidade surda é o público alvo da obra. Para não-falantes de LIBRAS, o documentário será acessível por meio de legendas.
SERVIÇO
Local: Auditório do CECH – UFSCar
Data: 20/09/2018
Horário: 14h-18h