Por João Paulo Matta
No final dos anos oitenta, a decadência e diminuição do número de salas de cinema ao redor do mundo estava em processo. Porém, em 1985, na cidade de Bruxelas, Bélgica, foi lançado um novo conceito, criado por norte americanos, que, ao longo dos anos noventa, traria um novo alento para este mercado: o de multiplex.
Entende-se por Multiplex “um complexo de salas de exibição com excelentes recursos cinematográficos, onde se destacam, principalmente, o conforto, a qualidade e a
modernidade”. Tais complexos de salas seguem a tendência de se estabelecerem em shopping centers, onde podem fornecer mais entretenimento e segurança para o público. Já ao longo dos anos oitenta, crescia o número de salas de exibição em shopping centers, o que também interessava aos proprietários de tais centros de consumo, já que os cinemas funcionavam como “âncoras” de atração.
No Rio de Janeiro, em 1991, havia 13 salas no interior de shopping centers. Em 1998 e 1999, este número saltou para 85 e 115, respectivamente. O fato é, que nos anos 1990, complexos do tipo multiplex se alastraram pelo mundo, gerando um boom de crescimento na oferta de salas de cinema. No mercado brasileiro, seguindo-se esta tendência, desde que se inaugurou, em 1997, o primeiro multiplex, no Shopping Center ABC em Santo André – SP5, esta modalidade de exibição tem-se multiplicado pelos centros urbanos. Grandes grupos internacionais como Cinemark, UCI e Hoyts General Cinema e grupos nacionais, como o Severiano Ribeiro, têm investido fortemente na implantação da nova tecnologia de exibição.
Já em 2000, 22% da oferta de salas de exibição no país era do tipo multiplex, sendo que, em São Paulo, esta participação já era de 50%. Os investimentos previstos entre 1997 e 2005, do Grupo Severiano Ribeiro, Cinemark, UCI e Hoyts em complexos do tipo foram estimados em US$ 600 milhões. Outras estimativas prevêem que em 2010 cerca de 79% da oferta de salas de cinema no país terá o padrão multiplex.
Observa-se que tanto o número de salas, como a receita global de bilheteria e o consumo per capita de ingressos, cresceram de forma significativa. Paralelamente a este grande fenômeno e tendência que vêm assolando o mercado nacional de cinema, outro, também significativo, apesar de menor impacto econômico, vem ganhando espaço: a proliferação, nos grandes centros urbanos – como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, de salas de cinema alternativas ou de arte. Tais salas vêm como uma opção para um público mais intelectualizado ou de amantes do cinema, que não se satisfaz ou até reage ao circuito de filmes comerciais, predominantemente norteamericanos, ou ao ambiente e perfil consumistas dos multiplexes. Tais salas costumam exibir selecionados e premiados filmes oriundos das mais diversas nacionalidades, muitos deles de produção independente.
Elas acabam também por desempenhar relevante papel para o cinema e para a sociedade, já que priorizam filmes de reconhecida qualidade artística e que espelham elementos da cultura dos mais diversos países, fazendo com que quem os veja adquira maior conhecimento intercultural, evidenciando-se, assim, o potencial educativo de tais salas. No Rio de Janeiro, o Grupo Estação possui 11 salas de exibição, a maioria na Zona Sul, tendo investido recentemente R$ 1 milhão com o objetivo de abrir mais duas salas.
Salvador tem seguido as tendências do mercado nacional. Em 1998 e 1999, surgiram dois complexos do tipo multiplex nos shoppings Iguatemi e Aeroclube Plaza Show. Após isso, em 2000 e 2002, um grupo de quatro sócios, o Grupo Sala de Arte, criou duas salas de exibição alternativas, respectivamente: a Sala de Arte do Clube Bahiano de Tênis e o Cine XIV no Pelourinho. Tais iniciativas mudaram amplamente a configuração e as tendências do mercado local de cinema.
O objetivo deste trabalho é analisar o mercado de salas de cinema de Salvador, a partir das especificidades do caso do Grupo Sala de Arte, avaliando o seu impacto na sociedade, bem como identificar as tendências do referido mercado na cidade.
Inicialmente, mostrar-se-á como tem sido a lógica recente da dinâmica de evolução das salas de exibição em Salvador, até o advento dos complexos multiplex. Em seguida, será discutida a organização Grupo Sala de Arte (a partir de entrevistas realizadas com seus sócios), destacando-se estratégias adotadas, sua assertividade e o impacto que teve o empreendimento em seu mercado e na sociedade local, a partir da opinião do público. O próximo passo será avaliar as tendências do mercado de cinemas de Salvador, após o advento do Grupo Sala de Arte.
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