Por Alessandra Meleiro, de Teerã
O presidente reformista Mohammad Khatami busca o diálogo externo, afirmando que o Islã não contradiz a democracia, a igualdade e os demais conceitos ocidentais de direitos humanos. Foi eleito pela segunda vez, em 2000, com uma votação expressiva e os candidatos reformistas para o Parlamento obtiveram três quartos dos votos. Como o presidente, foram eleitos pelo voto popular e dominam o Parlamento, o gabinete do governo e o Ministério de Informação.
Mesmo assim, a elite teocrática, encabeçada pelo aiatolá Ali Khamenei, mantém as rédeas do poder no Irã e rejeita as propostas do Parlamento. Não foi eleita no sentido ocidental da palavra: sua “eleição” aconteceu na esfera religiosa e foi restrita a clérigos graduados. Mas seu poder é maior que o dos políticos escolhidos por meio das urnas. Através de um dispositivo constitucional, controlam o Judiciário, as Forças Armadas, a Guarda Revolucionária e a mídia impressa e eletrônica.
Para essa facção, os EUA continuam a usar de todos os meios para pressionar a República Islâmica e os países muçulmanos. Um deles teria sido outorgar o Prêmio Nobel da Paz para uma mulher iraniana, a advogada Shirin Ebadi, defensora dos direitos de mulheres, crianças, dissidentes políticos e do caso da fotógrafa iraniana-canadense Zahra Kazemi, morta em uma prisão no país depois de fotografar familiares dos estudantes presos nos protestos de julho de 2003.
O caso gerou um sério conflito diplomático entre o Irã e o Canadá e mostrou o apego rígido da Revolução Islâmica às diretrizes anunciadas pelo falecido aiatolá Khomeini em 1981: “Durante o regime ditatorial anterior, as greves e os protestos deixavam Deus contente. Mas agora, quando o governo é um governo muçulmano e nacional, o inimigo está empenhado em tramar contra nós, portanto, a organização de greves e protestos é religiosamente proibida porque é contra os princípios do Islã”.
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FONTE
Originalmente publicado em Novembro/2003 na revista Carta Capital, Ano X, n. 268, São Paulo, Ed. Confiança, pp. 46-47