Por Alessandra Meleiro
O Irã prepara-se para celebrar seu próprio ano-novo em 21 de março, um período geralmente associado à esperança de tempos melhores. E muito há que melhorar: nos últimos três meses, o país tem sido o epicentro de seguidas tragédias, como a morte de 40 peregrinos iranianos vítimas dos ataques terroristas nas cidades de Kerbala e Bagdá, na semana passada, logo após o terremoto na cidade de Bam e a explosão de um trem de carga.
O resultado das eleições parlamentares de 20 de fevereiro, que findou na vitória dos conservadores, reflete a desesperança generalizada da população em relação ao cenário político. Contrasta fortemente com o resultado da eleição de 2000, quando candidatos reformistas conquistaram a maioria no Parlamento. Depois de protestar contra o veto da candidatura de cerca de 2.500 reformistas pelo Conselho dos Guardiães, os liberais e partidos opositores, que consideraram as eleições um golpe, boicotaram o pleito.
Entre as candidaturas vetadas encontram-se as de políticos bastante conhecidos do movimento reformista, como a do deputado em fim de mandato Mohammad Reza Khatami, irmão do presidente e o candidato mais votado nas eleições de 2000. Os motivos alegados pelo Conselho dos Guardiães para o banimento dos candidatos vão desde a suposta indiferença ao Islã e à Constituição até a acusação de questionarem o Líder Supremo. “Se entendermos reforma como um movimento dentro do governo, eu penso que sim, é o fim”, disse Reza Yousefian, um dos candidatos vetados.
Os dois mais importantes corpos políticos do Irã – o Judiciário e o Conselho dos Guardiães -, que estão vinculados ao Líder Supremo, refletem a orientação autoritária do líder teocrático e os conservadores os usam como trampolim para chegar ao Parlamento. Confirmando o receio dos reformistas, o Judiciário fechou os mais importantes jornais liberais, Sharq e Yas-enau, dois dias antes das eleições, por publicarem uma carta que criticou duramente o aiatolá Khamenei e o regime e os acusou de desrespeitar os direitos civis ao vetar candidaturas de reformistas.
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FONTE
Publicado originalmente em Março/2004 na revista Carta Capital, Ano X, n. 283, São Paulo, Ed. Confiança, pp. 30-31, 24/03/2004