Por Belisa Figueiró
Da Índia à Coréia do Sul, com pinceladas no norte da África (Tunísia, Marrocos e Argélia), o oriente cinematográfico debatido no V Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual traz particularidades dessas produções cinematográficas que pouco se aproximam pela religião ou zona geográfica. Longe das fronteiras preestabelecidas pelo ocidente, a forma como cada um deles produz e distribui filmes foi a pauta principal do terceiro dia de debates no Teatro Castro Alves, em Salvador.
Para falar de Bollywood, o produtor indiano, curador de mostras bollywoodianas e conselheiro da Academia Internacional de Cinema, Ram Devineni, apresentou os números desta crescente indústria da Índia e falou sobre a busca de uma nação-mãe por meio dos filmes. Anualmente, 1000 longas-metragens são produzidos na Índia e o público diário das salas de cinema chega a 14 milhões de espectadores, num país em que a população soma 1,186 bilhões de pessoas.
Mesmo com dezenas de línguas, os filmes de Bollywood são produzidos também para tentar definir a nação indiana e, inclusive, atinge boa parte dos indianos que hoje moram no exterior, por meio de uma grande distribuição. Em contraste com a Índia tecnológica que se desenvolve, deixando a vida rural, o cinema também reproduz esses anseios e é consumido a partir dos anos 90, quando uma classe média se estabelece no país.
Nessa tentativa de “ocidentalização”, a atriz e diretora Beatriz Seigner – que está pós-produzindo o seu filme “O Sonho Bollywoodiano”, a primeira coprodução com o Brasil – falou sobre sua experiência em fazer um longa sobre Bollywood. Ao chegar no país, tal foi sua surpresa com as propagandas de cremes que branqueiam a pele e que virou febre entre os atores bollywoodianos.
Em grandes cidades do país, ela disse, as tradições vão estão se perdendo aos poucos a partir do momento em que muitos indianos abrem mão do tempo dedicado aos seus rituais para ingressar no tempo físico do cotidiano ocidental, além dos padrões de beleza do star system.
Coréia do Sul
A pesquisadora e coordenadora do CENA, Alessandra Meleiro, fez um perfil da cinematografia sul-coreana, a qual é conhecida recentemente fora do país apenas em grandes festivais, embora sua produção tenha começado no início do século XX e hoje seja muito ativa. Só em 2008, o market share do país chegou a 60%.
No desenvolvimento dessa indústria, Alessandra citou a participação do Estado nas leis locais de fomento ainda nas décadas de 1940 e 1950, tornando a produção e a distribuição possível e sustentável, com taxas de importação e cotas de telas. No ano passado, 113 filmes foram produzidos e o faturamento chegou a US$ 80 milhões, boa parte deles obtidos no leste da Ásia e apenas 10% no ocidente.
E para escoar essa grande produção, instituições locais estudaram três nichos principais de mercado: leste da Ásia, cinema de arte e home vídeo para o ocidente. Nessa interação com países vizinhos, o cinema na região já caminha inclusive para uma produção e consumo de cinema doméstico pan-asiático.
África
Mediador participante, o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Mahomed Bamba, trabalhou a questão da sexualidade no cinema muçulmano nos países do chamado MAGRED, que engloba o Marrocos, a Tunísia e a Argélia.
Nessas cinematografias, os filmes ainda apresentam um certo pudor e censura ao retratar o corpo como objeto de sexualidade, principalmente o feminino, mas que busca saídas para se expressar. O cinema na África, como frisou Bamba, é muito recente, com apenas 50 anos de história. E ainda se identifica muito com o islamismo.
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FOTO: Mariana Hirsch
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